quarta-feira, 20 de janeiro de 2016

GILDA VALENÇA (1926-1983)


     Ermenegilda de Abreu Pereira nasceu em Lisboa em 13 de fevereiro de 1926. Gilda Valenã começou a cantar em Portugal, nos programas infantis da Rádio Nacional de Lisboa, com o nome de Gilda de Abreu.
         Sua irmã, Julieta Valença era atriz de teatro, e radicou-se no Brasil na década de 30, e foi a responsável por trazer as irmãs (Gilda e Ester de Abreu) para o país.
Em uma festa na casa da irmã no Rio de Janeiro, chamou a atenção do compositor Fernando Lobo e da cantora Aracy de Almeida, que a recomendaram para se apresentar na TV Tupi do Rio de Janeiro. Também cantou no programa radiofônico de Ary Barroso, mas precisou mudar de nome, pois havia no Brasil uma estrela de nome Gilda de Abreu, atriz e cineasta e esposa do cantor Vicente Celestino. Adotou o Valença, sobrenome usado artisticamente por Julieta já há muitos anos.

Gilda e a mana Ester



        Retornou a Portugal, onde trocou o rádio pelos palcos do teatro de revista, atuando com Herminia Silva nas peças Ó Papão e Vai-te Embora, no Teatro Variedades e com Laura Alves e João Villaret em Lisboa Nova, no Teatro Monumental.
         De volta ao Brasil em 1952, ingressou no elenco da revista Que Espeto Seu Felisberto, encenado no Teatro Recreio, ao lado de Colé e Silva Filha Filho. Ao mesmo tempo, fazia também shows em revistas de bolso na Boate Night and Day, estrelando o espetáculo Alô Carnaval. Tornou-se uma cantora de fados do teatro no teatro de revista.
            Gilda em  O empresário Walter Pinto, que sempre buscava lançar novas atrações em suas revistas, e viaja o mundo em busca de artistas internacionais e belas moças de todos os países do mundo para compor o seu elenco, convidou então Gilda Valença para ser uma atração de sua nova revista: É Fogo na Jaca (1953).


Gilda canta "Uma Casa Portuguesa"
      Gilda aparecia no palco acompanhada de um grupo de bailarinos, todos trajando roupas típicas portuguesas, cantando a música Uma Casa Portuguesa. O quadro fez um grande sucesso e popularizou a música no Brasil, que passou a ser o carro chefe da cantora. Devido ao sucesso da peça, gravou seu primeiro disco, cantando justamente Uma Casa Portuguesa, pela gravadora Sinter.
       No ano seguinte, em 1954, assinou contrato com a Rádio Mayrink Veiga. Neste mesmo ano seria coroada a Rainha da Canção Portuguesa, pelas mãos do embaixador de Portugal em uma festa promovida pelo Clube do Cinema Brasileiro, realizada na boate Vogue. Ainda em 1954 estreou no cinema, novamente cantando Uma Casa Portuguesa no filme O Petróleo é Nosso, estrelado por Violeta Ferraz (com quem havia atuado em É Fogo na Jaca).
     Retornou a revista atuando no espetáculo A Grande Revista (1955), de Carlos Machado. O espetáculo encenado na Boate Night and Day tinha ainda no elenco os atores Grande Otelo, Silvia Fernanda, Marina Marcel e Mara Abrantes. Certa noite Gilda Valença não pode participar do show, por causa de um compromisso com o rádio, e uma das coristas pediu para cantar no lugar de Gilda, sem muitas opções o diretor Carlos Machado deu uma chance para a garota, chamada Norma Benguell.

  Ao voltar ao Brasil, foi convidada por Geraldo Vietri para ingressar no elenco da novela Antônio Maria (1968), uma novela produzida pela TV Tupi voltada para a comunidade portuguesa. Gilda interpretou a misteriosa Amália de Alencastro Lisboa, uma das vilãs da trama. O sucesso da novela garantiu sua volta aos espetáculos de revista, atuando em Mister Samba Show, produzido por Caio Aranha. Espetáculo encenado no Teatro das Nações, tendo também Violeta Ferra e Salomé Parísio no elenco. Retornaria as novelas novamente sob direção de Vietri, interpretando a Maria das Graças na novela A Fábrica, que também contava com um núcleo português.


Gilda no capítulo final de Antônio Maria (1968)
      

Uccio Gaeta, Carlos Duval (que também era português) e Gilda Valença,
em A Fábrica (1971)

  Após alguns anos afastada do cinema, atuou no filme Portugal, Minha Saudade (1974) do cineasta Amácio Mazzaropi, gravado em Portugal. Gilda interpretava a esposa de Mazzaropi, que era descendente de portugueses por parte da mãe Clara Ferreira Mazzaropi. O artista tinha uma verdadeira adoração por Lisboa e realizou seu sonho de filmar na terra de seus avós. No filme, Mazzaropi aparecia cantando Eu Sou Assim, um dos sucessos gravados por Gilda Valença nos tempos do rádio. Gilda e Mazzaropi ficaram amigos, e fizeram ainda muitos filmes juntos, além de diversas apresentações em cinemas e circos pelo interior de todo o Brasil. Ela ainda apareceria cantando Maria do Mar, de sua autoria (junto com Fernando Sanxo) no filme Jeca e o Seu Filho Preto (1978). Gilda Valença morreu vítima de câncer no ovário em 08 de novembro de 1983.

Gilda canta Maria do Mar, em Jeca e o Seu Filho Preto (1978)

Gilda Valença, bem como suas irmãs, são personagens do livro Cá e Lá, o Intercâmbio Cinematográfico Entre Brasil e Portugal  de Diego Nunes, que pode ser adquirido pelo email diegofnunes@yahoo.com.br. Dúvidas, sugestões e comentários também são bem vindos.




domingo, 22 de novembro de 2015

CONVITE

No dia 01/12 farei uma palestra sobre o livro, na Livraria Blooks, no Shopping Frei Caneca, em São Paulo. Prestigiem!


terça-feira, 27 de outubro de 2015

Lançamento do livro é destaque em programa de rádio

O programa carioca Show Sonia Monte destacou o lançamento no Rio de Janeiro do livro Cá e Lá, o Intercâmbio Cinematográfico Entre o Brasil e Portugal, ocorrido no dia 24 de outubro de 2015.

Para ouvir, basta acessar  aqui



Lançamento do livro no Rio de Janeiro

       No dia 24 de outubro realizou-se na Livraria Folha Seca, no Rio de Janeiro, o lançamento do livro Cá e Lá, o Intercâmbio Cinematográfico Entre o Brasil e Portugal, do autor Diego Nunes.



      A livraria é localizada na Rua do Ouvidor, uma tradicional rua do centro histórico carioca que abrigou o primeiro cinema inaugurado no Brasil e é também endereço do nascimento da atriz Cinira Polônio, primeira atriz brasileira a trabalhar no cinema português, em 1896.

     O lançamento foi realizado com muito sucesso, em meio a descontração do público carioca, que foi prestigiar o lançamento do livro, que aborda inúmeros personagens da cultura do Rio de Janeiro, a então sede da capital federal do país. Foi no Rio que surgiu o primeiro estúdio de cinema brasileiro, o Ômega Films, que surgiu o primeiro filme com um roteiro do país (Os Estranguladores do Rio, 1906) e que despontaram vários astros do nosso cinema abordados no livro, como Carmen Santos e Violeta Ferraz, além da misteriosa Ivaná (primeira travesti do teatro de revistas brasileiro), todos abordados no livro, que conta as relações cinematográficas luso-brasileiras. Traçando, através do imigrantes lusitanos, um panorama da história do cinema brasileiro.




     No lançamento estiveram presentes a escritora Norma Hauer, biógrafa do cantor Carlos Galhardo, o colecionador Marcelo Del Cima, o pesquisador Gui Castro Neves, o cantor Luiz Henrique, a jornalista Sônia Monte, entre outros, provando que o público carioca sempre prestigia e aprecia o resgate da nossa memória e cultura, assuntos sempre presentes nos livros da Editora Matarazzo.

    Para adquirir o livro, entre em contato com o autor, diegofnunes@yahoo.com.br

terça-feira, 13 de outubro de 2015

Marietta Baderna


       Em 1849 chegou ao brasil a bailarina italiana Marietta Baderna, fugindo da ocupação austríaca em seu país. Bailarina clássica do Scala de Milão, a bela moça se apaixonou pelos ritmos africanos
que conheceu no Brasil, como a umbigada e o lundu, e passou a incluí-los em suas apresentações. Dona de uma grande beleza e dançado rítimos muito sensuais para os tempos da corte de Dom Pedro II, ela começou atrair muitos rapazes para suas apresentações.

     Os setores mais conservadores da sociedade passaram a censusar seu número, impedindo-a de subir aos palcos para se apresentar. Revoltados os seus fãs saiam às ruas aos gritos de “queremos Baderna!” Escandalizados, os espectadores exclamavam: “Esses baderneiros!”

    Para saber mais sobre Maria Marietta Baderna, e outras histórias, leia o livro "Cá e Lá, o Intercâmbio Cinematográfico entre o Brasil e Portugal", de Diego Nunes.

segunda-feira, 12 de outubro de 2015

A misteriosa Ivaná

         Em 1953 o grande diretor teatral Walter Pinto, sempre buscando novas atrações internacionais para seus luxuosos espetáculos, anunciou a contratação da vedete francesa Ivaná, vinda das principais casas de espetáculos parisienses. Ivaná estreou nos palcos brasileiros no espetáculo É Fogo na Jaca (1953).



         Ivaná na verdade era portuguesa e a nacionalidade francesa foi um golpe publicitário, muito comum naquela época. E também tinha outro “segredo”, Ivaná era homem. Nascida Ivan Monteiro Damião, Ivaná ficou famosa nos palcos brasileiros justamente por este mistério que a envolvia. Dona de uma grande beleza a elegância, o público custava a acreditar que aquela bela mulher que cantava em francês era na verdade um rapaz travestido. Na publicidade do espetáculo, Walter Pinto anunciou que uma de suas “girls” era um transformista, mas não disse qual a princípio. Os espectadores suspeitaram da também estreante Jane Grey, que tinha um rosto anguloso e um tanto masculino, segundo alguns. Foi a revista Manchete quem revelou a verdadeira identidade de Ivaná, mas ainda lhe atribuindo a nacionalidade francesa.

      
Carmen Miranda cumprimenta Ivaná (ou Ivan),
nos bastidores de Eu Quero Me Badalar (1954)

       A artista ficou conhecida, erroneamente, como a primeira travesti do nosso teatro de revista. Mas ela mesma fazia questão de corrigir esta informação. Em entrevista à Revista do Rádio em 29 de julho de 1961 fez questão de lembrar que o pioneiro: “Antes de mim, os brasileiros tiveram ainda Aimo (sic), que apesar da idade avançada, ainda continua a trabalhar. Êle é o verdadeiro pioneiro”.

         Aymond, o artista citado por Ivaná era argentino, nascido Norberto Americo Aymonino. Veio a primeira vez ao Brasil em 1926, com a Companhia Argentina de Revistas. Estreou no Theatro Phenix na revista A-E-I-O-U, em 29 de julho de 1926. Após o final da temporada, retornou com a Companhia para a Argentina. Chamado de “O artista da garganta de ouro”, imitava artistas como Jeanette MacDonald, Raquel Meller, La Argentina e Mercedes Simone.

       
Aymond

             Em novembro de 1928 ele retornou aos palcos brasileiros, atuando na revista Palácio das Águias, no Theatro Recreio. No elenco Alda Garrido, Olympio Bastos (o cômico de origem portuguesa, conhecido como Mesquitinha) e a argentina Lydia Campos, anunciada como “Musa do Tango”.

           Em 04 de dezembro de 1928 o jornal carioca A Manhã registrou uma crítica sobre Aymond: “(...) Chamam-no fenômeno vocal. Por que? É que o homem possue uma voz que a gente não sabe bem se é de homem, se é de mulher. Voz curiosa. E porque é curiosa, o público aplaudiu. Foi o único “bis” da noite.Mas Aymond, que fora feliz cantando á sua maneira, quis imitar Lydia Campços, anunciou que ia imital-a. Imitando-a, porém, continuou a ser Aymond, nada mais, nem um traço caracaterstíco de Lydia.”

      Depois não encontramos mais informações sobre Aymond no teatro de revista, mas ele continuou atuando. Anunciado como “O Imitador do Belo Sexo”, Aymond continuou se apresentando em pequenos shows, geralmente antes de exibições cinematográficas, como fez em 1933 no cinema Alhambra, no Rio de Janeiro, e no ano seguinte em Belo Horizonte.

Ficha de Aymond no DOPS de Recife, em 1938, disponibilizado pelo site Obscuro Fichário

        Mas Aymond também não pode ser o detentor do título de introdutor do transformismo no teatro de revista brasileiro. Números de travesti eram muito comuns, mas geralmente eram feitos por atores cômicos, em paródias. Porém no começo do século XX apresentou-se nos palcos cariocas o norte-americano John Bridges (ou João Bridges como as vezes é creditado), que imitava no palco a atriz Pepa Ruiz, estrela portuguesa de grande sucesso nos palcos brasileiros. E nesta época, os jornais já o consideravam rival do “artista exótico” Visconti, de quem não conseguimos maiores informações.

Anúncio da apresentação de John Bridges, publicado no jornal
                                                                O Paiz 21 de maio de 1895

             Ainda destacamos pelo menos mais um transformista, o norte-americano John Bridges. Vamos encontra-lo se apresentando no Cine Theatro Yolanda, Rio de Janeiro, em 1919. Bank atuava em pequenos shows mambembes no. Encontramos poucas informações sobre o artista, mas anúncios de suas apresentações são encontrados até 1946.


Fichas de Walter Bank em 1943, também do site Obscuro Fichário


       Voltando a Ivaná, ela ainda passaria pela companhia de Silva Filho e depois retornaria a trabalhar com Walter Pinto em mais duas ocasiões, incluindo no enorme sucesso Eu Quero é Me Badalar (1954-55), com a vedete Salomé Parísio. Também atuou em alguns filmes, sendo o primeiro deles Mulher de Verdade (1954), do diretor Alberto Cavalcanti.

Ivaná e Zé Trindade, no filme
Mulheres Cheguei (1956)

Ivaná cantando no filme
Mulher de Verdade (1954)

     Na década de sessenta, mudou-se para São Paulo, onde atuou em muitos shows de importantes boates, mas começou a entrar em decadência e sofrer perseguições políticas com a chegada da ditadura militar no país.

     Ivaná faleceu na década de noventa. Para saber mais sobre Ivaná, leia “Cá e Lá, o Intercâmbio Cinematográfico entre o Brasil e Portugal”, de Diego Nunes.